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18.04.2020 • 03:04 por Mónica Mendes

Fiona Apple

Fetch The Bolt Cutters

E, de repente, quando o mundo está todo em suspenso sem conseguir ver o amanhã com nitidez, sai um álbum da Fiona Apple.

Aqui é preciso recuar um pouco e referir que os dois primeiros álbuns deste portento musical ocupam um lugar bem simpático no ranking dos meus discos preferidos de todo o sempre (o link que se segue não me deixa mentir): “Tidal” de 1996 é um bombom com recheio alcoólico que a apontou imediatamente como uma cantora/compositora/pianista absolutamente obrigatória.
Depois em 1999 veio “When The Pawn…”, pffff…embora este não tenha link aqui, garanto-vos que tem no meu coração! As notas deste álbum estão fossilizadas nos meus canais auditivos de tanto que o ouvi, só podem estar. É um estrondo!

Há dois dias, a propósito daquela história dos “álbuns das nossas vidas” que volta não volta rola nas redes sociais, fui buscá-lo mas não me alonguei na explicação, nem desse, nem de nenhum dos outros que escolhi. Gosto muito de música, acho que já perceberam isso mas não gosto nada de a analisar com conhecimentos enciclopédicos e frases pomposas para além de que já há muita gente a fazer isso e muitíssimo bem. Passo. Como passo todos os álbuns da Fiona que se seguiram, até este.

E é mesmo por aqui que vou abordar “Fetch The Bolt Cutters” enquanto o oiço pela 2ª vez, vi-dra-da e sempre antes de ler qualquer impressão da imprensa especializada.

Este 5° álbum da Fiona é composto ao ritmo da vida. A voz falha, a voz volta, a voz falha outra vez e acaba numa fífia fora de tom mas é imediatamente perceptível que volta a ter-nos em consideração.
Cada canção é diferente da outra mas a linha condutora não se perde pelos instrumentos que não conseguimos identificar e pelos ritmos que, embora estranhos, encontram um lugar confortável nas curvinhas dos nossos tímpanos. Good old Fiona is back! Às vezes canta, outras diz. Há cães que ladram nos compassos certos e Fiona já não fala só das más experiências amorosas, outras preocupações vêm ao de cima em “Fetch The Bolt Cutters”. A finitude, a mortalidade, a injustiça, a raiva, o amor que lhe sai em harmonias de voz angelicais e logo a seguir pela sombra, aquela sombra que a caracteriza. É forte, é fraco, corajoso, bonito, despenteado, sincero, ansioso, sorridente, mal disposto…tão certeiro nos dias que correm porque respira ao ritmo de vários estados de alma, sem medo.

Resumindo: não consigo comparar este álbum a nada que tenha ouvido antes. Nada. Tão bom!