albuMs
11.02.2017 • 21:02 por Mónica Mendes

Amy Winehouse

Frank

Lembro-me sempre claramente do que senti quando ouvi, pela primeira vez, um disco de que gosto muito. É curioso porque, regra geral a minha memória deixa-me mal.

Quando ouvi “Frank”, delirei. Fui lançada umas quantas dezenas de anos atrás e aterrei num bar, cheio de fumo, numa cave, onde estava a cantar uma miúda nova de alma velhíssima. Logo à segunda canção levantei os olhos e fiz “rewind” para ter a certeza de que tinha ouvido bem: “Badu? Ela falou da Badu?…”. Falou, pois! “lent you Outsidaz and my new Badu…”, é assim que começa, num promissor augúrio, “You Sent Me Flying/Cherry”.

Tão nova e já com tanto jogo de cintura para entrelinhas geniais que vou apanhando do ar enquanto aquela voz monumental me impede de fazer o que quer que seja, a não ser estar parada, sentada a manusear o livrinho do cd para ver se encontro mais alguma pista que me indique de onde vem tanta alma.

Existe uma diferença grande entre o que pretende ser “retro” por opção, ou por coração e aquele médio arranhado da voz da Amy não engana ninguém. É desarmantemente honesto.

“Frank” é o jazz maldisposto por ter sido retirado da sua época pela raíz, pelo bolbo, mas bem aconchegado num vaso mais actual e regado pela alma errante, brilhante e genuína de Amy  Winehouse.