M do dia
31.05.2019 • 18:05 por Mónica Mendes

Primavera Sound Barcelona – Dia 1

O M anda por Barcelona nestes dias a acompanhar a 19ª edição do Primavera Sound em jeito de soundcheck para a versão portuense que, pelo 8º ano, vai espalhar o seu charme no Parque da Cidade de 6 a 8 de junho.

Com um cartaz que me provocou algumas arritmias, normalíssimas para quem sempre viveu encostada ao lado negro da música…a estreia de Solange, Kali Uchis, Rosalía, James Blake, Neneh Cherry e a que é para mim a melhor cantora contemporânea, Erykah Badu que fechou um dos grandes palcos do 1º dia do festival espanhol que se multiplica por 17 spots espalhados pelos muitos hectares do Parc del Fórum, um parque criado propositadamente para receber a convenção anual “The Universal Forum of Cultures”, com vista para o mediterrâneo.

Com o mote “The New Normal” a apelar à igualdade de género reflectida nas contratações desta edição do festival com uma forte presença feminina.

Mas comecemos pelo rapper NAS, autor de um dos álbuns mais citados e venerados do hip hop, “Illmatic”, que me fez aproximar de um dos muitos anfiteatros do parque para me deparar com esta visão.

É tão bonito, não é? NAS subiu ao palco com um belo rugido de boas vindas e com dois amigos a ampararem as suas rimas: um baterista e um DJ nas programações e nos samples que tocam sempre nalguma área da nossa memória: Sting, De La Soul, Eurythmics, passaram todos pelo concerto eficaz do nova iorquino que conseguiu arrancar muitos momentos de emoção a quem o escutava.

Mais uma volta pelo recinto e paragem no food court para comer qualquer coisa. Gigante! Arrisco dizer que há centenas de opções: da salada mais biológica à fatia de pizza mais gordurosa…adivinhem lá o que escolhi? Claro! Fui andando para o palco da Badu ainda a limpar as mãos nas calças de ganga e com o copo que comprei e que, se tudo correr bem, me irá acompanhar até ao último dia do festival. Não é novidade a preocupação ambiental que os festivais têm demonstrado nos últimos anos e o Primavera Sound não é excepção. Com muitos ecopontos espalhados pelo recinto, nunca damos mais do que 5 passos para deitar o que quer que seja para o lixo.

Meia hora antes do concerto começar ainda se conseguia ficar na 1ª linha, mesmo ali encostada às grades. Deixei lá a S. Alberto, (lembram-se de eu ter ido a Londres no ano passado ver a Badu ao Field Day Festival? Foi a S. que me ofereceu o bilhete e voltámos a encontrar-nos aqui em Barcelona) fui à zona de imprensa ver se havia alguma novidade digna de registo e quando regressei, 5 minutos depois, já tive de furar por entre uma massa considerável de pessoas. Pisei uns quantos pés, ouvi alguns palavrões em castelhano e catalão, mas consegui! Tudo para que também vocês pudessem ver o melhor possível um bocadinho dos cada vez mais raros concertos da rainha.

Baixam as luzes, o público reage…”hello, hello…hey, hello, hello…” Badu entra sempre em palco com muita calma, a desfilar com umas calças de fato de treino cinzentas, bem largas e arregaçadas numa das pernas, chapéu gigante, muitas mensagens na t-shirt e nos colares. Trazia ainda um fio brilhante com 3 penas, que lhe atravessava a cara e sublinhava aqueles olhões verdes que se encheram de lágrimas por várias vezes, ao longo de todo o concerto. Passou por todos os álbuns, fez-nos virar a cabeça e olhar para o céu quando apontou para “that star over there”, franziu a cara para tirar aquelas notas demoradas do fundo da alma, explicou que tudo era energia e pediu-nos que virássemos as palmas das mãos para ela. Nós obedecemos. Lá pelo meio avisou que tinha de fazer uma pausa porque estava a ficar velha…pensei que se referisse a um intervalo no concerto, mas não, o concerto continuou psicadélico, feroz e emotivo, com baixo, percussão, bateria e teclas e 3 vozes de apoio bem afinadas e ensinadas a parar imediatamente ao sinal de “hold on” de Badu. Com imagens muito fortes e coloridas a passar no fundo do palco que alternavam entre células e códigos binários que ora apoiavam, ora contrastavam com o groove que chegava aos nossos ouvidos.

Foi a 4ª vez que vi Erykah Badu ao vivo e este foi, de longe, o concerto mais emotivo de todos. Não sei a que se referia quando disse que estava velha, ou melhor, até sei…mas não entendo porque não senti nada disso em nenhum acorde, em nenhuma nota, em nenhum adereço, em nenhuma mensagem.

Talvez uns “revueltos” que lhe caíram mal. Nada que uma “francesinha” não cure!

Acreditem em mim, é imperdível o concerto de Erykah Badu! Dia 8 de junho no NOS Primavera Sound.

  • Teresa Costa

    Fantástico texto, que nos transporta diretamente para os locais e concertos tão bem descritos… não deixando passar os mais importantes pormenores e algumas situações, descritas com um humor todo especial!