Sign ‘O’ The Times – obrigada Prince

Finalmente tenho tudo feito no site, pensei depois do almoço. Posso tirar a tarde, ir ao supermercado e dar uma volta a seguir. Mal ponho o pé na rua recebo um sms a perguntar: “Mónica, não vais falar sobre os 30 anos do “Sign ‘O’ The Times”???” respondi, “não. já o destaquei há uma semana.” Guardei o telefone decidida a prosseguir com os meus planos. Olhei para a lista do supermercado e não consegui ler o que lá estava escrito. “…espera lá! então um dos álbuns que mudou a tua vida faz hoje 30 anos e tu vais para o supermercado comprar batatas e cebolas?!?” Dei meia volta, voltei para casa e pus “Sign ‘O’ The Times” a tocar bem alto.
Recuei até ao dia em que o ouvi pela primeira vez. Saiu da mala da minha Mãe depois de uma viagem a Londres. “Trouxe-te um LP que está a tocar em todo o lado e em destaque em todas as lojas de discos por que passei!”. Fiquei contente, adorei a capa. Quando o ouvi pela primeira vez, não o entendi. Estava à espera de ritmo, estava à espera que o seu conteúdo me fosse familiar, que me fizesse dançar e ficar agarrada à aparelhagem para o voltar a ouvir 500 vezes, mas não. Desapontou-me logo ao 1º tema. Rabujei com a minha Mãe e disse-lhe que devia ter ouvido antes de o comprar, que foi dinheiro gasto à toa, que aquilo não tinha ritmo nem nada de bom. Arrumei-o na prateleira num lugar assim não muito abonatório. Uma semana depois, chegada a casa do liceu, a lombada amarela saltou-me à vista e resolvi dar-lhe uma segunda oportunidade, ou teria de ser guardado noutro sítio. Lembro-me tão bem de o ter posto a tocar, sem grande convicção e, ainda hoje não encontro explicação para o que aconteceu: os primeiros acordes do tema título “Sign ‘O’ The Times”, que tinha detestado uma semana antes, ecoaram na minha cabeça de tal forma, que tive de parar e sentar-me com a capa na mão e muito provavelmente com a sobrancelha franzida, sem perceber por que raio de razão é que eu não tinha gostado daquilo quando ouvi pela primeira vez! Aquilo não era bom, era absolutamente brilhante aos meus ouvidos. Acreditem que, ainda hoje, ainda agora, quando oiço “Sign ‘O’ The Times” consigo recuar à minha adolescência e à visão da aparelhagem com o disco a rodar, e consigo sentir exactamente a mesma coisa: admiração, respeito, aceleração do ritmo cardíaco, arritmia na respiração. Hoje consigo sistematizar o que se passou: Prince atirou-me para o meio da estrada, quando eu só andava pelo passeio. Deu-me uma mota sem capacete, quando eu só andava de carro protegida pelo cinto de segurança. Atirou-me para fora de pé no mar revolto, quando eu ainda usava braçadeiras. Desentupiu-me os tímpanos com um estalo, quando eu só conhecia cotonetes para o efeito.
Faz hoje 30 anos que a música mudou. Hoje faz 30 anos que eu percebi o que é a música.
Obrigada Prince.

*este artigo não tem link porque Prince não queria a sua música na net.